A Geração Z está transformando o cinema ao integrar plataformas digitais, experiências coletivas e inovações tecnológicas.

O cinema sempre passou por transformações, mas poucas gerações testemunharam mudanças tão drásticas no consumo e na produção audiovisual quanto a Geração Z. Enquanto o hábito de ir ao cinema se torna cada vez menos frequente, novas formas de interação com a sétima arte emergem, moldadas pelo digital. O TikTok, as inteligências artificiais (IA) e até o ressurgimento dos cineclubes apontam para um futuro híbrido, onde tradição e inovação coexistem de maneira surpreendente.
Mas, afinal, como essa geração, conhecida pela fragmentação do consumo e pelo imediatismo das redes sociais, está redescobrindo um meio que nasceu para ser assistido em longas sessões escuras e silenciosas?
Do TikTok às recomendações algorítmicas
O TikTok se tornou um dos principais responsáveis por um fenômeno inusitado: o ressurgimento de clássicos e filmes independentes entre os mais jovens. Cenas icônicas viralizam, listas de “filmes que vão mudar sua vida” surgem semanalmente e edições criativas transformam até mesmo cineastas esquecidos em tendências inesperadas.
Um exemplo marcante foi o revival de Clube da Luta (1999) e Donnie Darko (2001), dois filmes que encontraram uma nova audiência por meio de vídeos curtos que explicavam suas tramas complexas. Até obras recentes, como Everything Everywhere All at Once (2022), ganharam fôlego extra ao se tornarem fenômenos na rede social.
Os algoritmos, que antes apenas indicavam filmes com base em preferências de visualização, agora funcionam como curadores culturais. O que antes dependia do boca a boca ou de revistas especializadas se transformou em uma onda digital, onde trechos de segundos têm o poder de reviver e redefinir o significado de um filme.
Cineclubes e a volta da experiência coletiva
Embora o digital domine o consumo audiovisual, há um movimento contrário acontecendo simultaneamente: o retorno dos cineclubes. Em meio a uma cultura dominada por telas pequenas e consumo individualizado, muitos jovens têm procurado formas de assistir a filmes em comunidade, longe dos multiplexes e suas superproduções.
Em diversas cidades do Brasil, cineclubes têm surgido ou se fortalecido, reunindo espectadores interessados em curadorias alternativas, desde filmes clássicos até produções nacionais e independentes. O diferencial? Além da exibição, esses espaços incentivam debates, promovendo uma relação mais profunda com o cinema.
Esse resgate da experiência cinematográfica coletiva pode ser visto como uma resposta à saturação do digital. Para uma geração acostumada a consumir tudo sozinha, em casa, a possibilidade de dividir um filme e suas reflexões com outras pessoas se tornou um atrativo inesperado.
Inteligência Artificial e o futuro da produção
Se o streaming e as redes sociais transformaram a forma como assistimos aos filmes, a inteligência artificial promete mudar radicalmente a forma como eles são feitos.
Ferramentas de IA já estão sendo usadas para criar roteiros, gerar imagens e até recriar vozes de atores falecidos. Em plataformas como Runway e Midjourney, é possível produzir sequências visuais inteiras com apenas alguns comandos. Mas o que isso significa para o cinema tradicional?
A Geração Z, acostumada à experimentação tecnológica, parece disposta a abraçar essa revolução. Muitos jovens já estão usando IA para criar curtas-metragens independentes e explorar novas estéticas, misturando animação, deepfake e hiper-realismo. Isso levanta questões importantes: qual será o papel do diretor no futuro? O que significa autoria em um mundo onde um filme pode ser gerado por um algoritmo?
Se, por um lado, a IA democratiza a produção e reduz custos, por outro, há um temor de que a criatividade humana seja substituída por fórmulas automatizadas. Esse embate entre inovação e identidade artística será um dos principais desafios do cinema nos próximos anos.
O cinema do futuro está sendo reinventado agora
A Geração Z pode não consumir cinema da mesma forma que as gerações anteriores, mas isso não significa que tenha perdido o interesse pela sétima arte. Pelo contrário: está reinventando a maneira como os filmes são descobertos, assistidos e produzidos.
O TikTok transformou a curadoria, os cineclubes resgataram o aspecto comunitário e a inteligência artificial abriu portas para uma nova forma de criação. O que parecia o fim da experiência cinematográfica como conhecíamos se tornou, na verdade, uma reconfiguração – e o futuro do cinema, como sempre, será moldado por aqueles dispostos a experimentá-lo de novas formas.