ChatGPT gera imagens no estilo Ghibli e reacende debate sobre direitos autorais

Nova ferramenta de inteligência artificial da OpenAI viraliza e levanta questionamentos sobre apropriação estética e ética na criação artística

A mais recente atualização do ChatGPT, que integra um gerador de imagens avançado, causou uma verdadeira febre na internet ao permitir que usuários criem ilustrações inspiradas no estilo do Studio Ghibli, famoso estúdio japonês de animação. A ferramenta atraiu um milhão de novos usuários em apenas uma hora, um recorde absoluto para a OpenAI, empresa responsável pelo chatbot. No entanto, a explosão da trend trouxe à tona um intenso debate sobre direitos autorais, apropriação estética e a influência da inteligência artificial na indústria criativa.

O que é a trend do Studio Ghibli

A trend consiste no uso da ferramenta de geração de imagens do ChatGPT para transformar fotos e cenas icônicas em ilustrações que imitam o estilo do Studio Ghibli, conhecido por animações como A Viagem de Chihiro, Meu Amigo Totoro e O Castelo Animado. Nas redes sociais, internautas compartilharam imagens estilizadas de políticos, artistas e momentos históricos, gerando uma onda de engajamento.

A tecnologia por trás do fenômeno foi implementada recentemente pela OpenAI, tornando o ChatGPT ainda mais atrativo para o público geral. O sucesso foi tão estrondoso que o CEO da OpenAI, Sam Altman, comemorou o feito nas redes sociais, ressaltando que o chatbot atingiu a marca de 150 milhões de usuários ativos na semana da trend.

Direitos autorais e apropriação estética

Apesar da popularidade, a tendência levanta questões importantes sobre direitos autorais e apropriação de estilos artísticos por inteligência artificial. O Studio Ghibli tem uma identidade visual única, caracterizada por animações feitas à mão, cores suaves e uma estética nostálgica. O uso da IA para replicar esse estilo sem autorização da empresa gerou polêmica entre artistas e especialistas em propriedade intelectual.

Em entrevista à CNN Brasil, o advogado especializado na área, Felipe Rocha, explica que a questão do direito moral do autor é central nesse debate:

“Os artistas têm o direito de serem reconhecidos por suas criações, e a reprodução do estilo de um estúdio renomado sem autorização pode ser interpretada como uma violação desse direito. O problema se agrava quando há uma apropriação comercial dessas imagens.”

Em resposta às críticas, a OpenAI afirmou que sua ferramenta evita copiar diretamente estilos de artistas vivos, mas permite a reprodução de estéticas mais amplas, como a do Studio Ghibli. A empresa reforçou que busca equilibrar liberdade criativa e respeito à propriedade intelectual.

As críticas de Hayao Miyazaki

A polêmica reacendeu declarações antigas de Hayao Miyazaki, lendário cofundador do Studio Ghibli. Em um vídeo de 2016, o cineasta japonês criticou duramente a arte gerada por inteligência artificial, classificando-a como um “insulto à vida”. Ao assistir a uma demonstração de IA criando animações, Miyazaki expressou repulsa:

“Estou completamente enojado. Se vocês realmente querem fazer coisas assustadoras, podem ir em frente, mas nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho.”

Miyazaki, que sempre defendeu o processo artesanal da animação, reforça a preocupação sobre o impacto da IA na indústria cultural. O Studio Ghibli, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre a tendência.

Limites éticos da inteligência artificial

Além da questão dos direitos autorais, a explosão da trend levanta reflexões sobre os limites éticos da inteligência artificial na criação artística. O uso desenfreado da ferramenta gerou imagens estilizadas de eventos históricos sensíveis, como a queda das Torres Gêmeas, o que gerou indignação nas redes.

Quando uma IA permite gerar imagens sem controle, há o risco de desinformação e manipulação. Além disso, a substituição do trabalho humano pela máquina pode enfraquecer ainda mais a valorização dos artistas.

Impacto no mercado de animação e ilustração

A popularização da IA na geração de imagens também afeta profissionais da área de ilustração e animação. Muitos artistas expressaram preocupação com a possibilidade de perderem espaço para ferramentas automatizadas que replicam seu trabalho sem o devido reconhecimento ou remuneração.

O problema não é a tecnologia em si, mas sim a forma como ela é usada. Se uma IA aprende a desenhar como um artista, mas esse artista nunca recebe nada por isso, há um grande desequilíbrio. A valorização do trabalho humano precisa ser parte desse debate.

O impacto da IA na economia criativa está apenas começando a ser compreendido, e especialistas defendem uma regulamentação mais rígida para evitar abusos e proteger os profissionais do setor.

Restrições e futuro da ferramenta

Diante da intensa demanda, a OpenAI anunciou a imposição de um limite temporário de três imagens por dia para usuários da versão gratuita do ChatGPT, justificando a decisão pelo alto consumo de recursos computacionais.

A empresa também informou que continuará ajustando suas diretrizes para evitar o uso indevido da ferramenta. No entanto, o caso do Studio Ghibli demonstra que a discussão sobre os limites da IA na arte ainda está longe de um consenso.

A trend do Studio Ghibli ilustra como a inteligência artificial está transformando a criação artística e desafiando conceitos tradicionais de autoria e direitos autorais. Enquanto a tecnologia evolui e ganha novos adeptos, o debate sobre seus impactos éticos, culturais e econômicos deve continuar a crescer.

Afinal, até que ponto uma IA pode se apropriar de um estilo artístico sem violar direitos? E qual será o futuro dos artistas humanos diante dessa nova realidade? Essas são perguntas que a sociedade precisará responder à medida que a inteligência artificial avança e redefine a arte no século XXI.