O marketing da diversidade Está realmente funcionando?

O crescimento da diversidade na publicidade levanta dúvidas sobre a autenticidade das estratégias das marcas e a real transformação estrutural

Nos últimos anos, a diversidade se tornou um pilar fundamental das estratégias de comunicação das marcas. Empresas dos mais variados segmentos passaram a exibir campanhas repletas de representatividade, incluindo pessoas negras, LGBTQIA+, indígenas e corpos fora do padrão estético tradicional. No entanto, apesar do discurso inclusivo, muitas dessas ações ainda soam superficiais e distantes de uma mudança estrutural real. A questão que se impõe é: a inclusão promovida pelas marcas é genuína ou apenas um rótulo para vender mais?

A inclusão como estratégia de mercado

O discurso da diversidade deixou de ser um diferencial e se tornou um requisito. A sociedade cobra das empresas um posicionamento claro sobre questões sociais, e as marcas que ignoram essa demanda correm o risco de serem canceladas. Isso levou muitas delas a incorporarem a representatividade em suas campanhas, tentando se alinhar às expectativas do público.

O problema surge quando a inclusão se limita a ações publicitárias e não se reflete na estrutura da própria empresa. Muitas campanhas promovem diversidade na frente das câmeras, mas nos bastidores a realidade é outra. O número de pessoas negras e trans em cargos de liderança ainda é irrisório, e poucas empresas oferecem condições reais de ascensão para esses grupos.

O “Pink Money” e o lucro em cima da representatividade

Um exemplo claro desse fenômeno é o chamado “Pink Money” — o capital gerado pelo consumo do público LGBTQIA+. Marcas patrocinam paradas LGBTQIA+, lançam produtos com as cores do arco-íris e fazem campanhas exaltando o orgulho, mas, quando se trata de políticas internas, muitas delas não oferecem um ambiente seguro para seus funcionários queer. Empresas que dizem apoiar a diversidade ainda se envolvem em denúncias de transfobia, assédio e discriminação dentro do próprio ambiente de trabalho.

A apropriação da pauta sem compromisso real não se restringe ao universo LGBTQIA+. O movimento negro também já manifestou descontentamento com empresas que lançam produtos ou campanhas com rostos negros apenas para atender a uma demanda comercial, sem realizar mudanças internas ou apoiar efetivamente causas antirracistas.

Cases de inclusão superficial

O mundo da moda talvez seja o exemplo mais visível dessa apropriação comercial da diversidade. Marcas que antes só exaltavam padrões europeus agora incluem modelos racializados e gordos em suas campanhas, mas as grades de roupas continuam restritas e as contratações seguem privilegiando um mesmo perfil branco e magro nos cargos criativos e executivos.

Outro caso emblemático é o de empresas de cosméticos que passaram a ampliar sua cartela de produtos para tons de pele mais escuros apenas depois da pressão do público. Durante décadas, as bases de maquiagem ignoravam consumidores negros e indígenas, e só após a ascensão de marcas como a Fenty Beauty, de Rihanna, que tornou a inclusão um diferencial real, outras empresas passaram a seguir essa linha.

A diferença entre marketing e compromisso Real

O marketing da diversidade só faz sentido quando há um compromisso concreto por trás dele. Mais do que colocar pessoas negras, LGBTQIA+ ou indígenas em propagandas, é preciso garantir que esses grupos tenham espaço na tomada de decisões. Isso significa mudar políticas de contratação, investir em programas de inclusão e garantir um ambiente de trabalho que respeite e valorize a diversidade.

Além disso, o impacto social das campanhas deve ser medido. Empresas que realmente se preocupam com a inclusão precisam ir além da publicidade e apoiar iniciativas sociais, educacionais e culturais voltadas para os grupos que dizem representar. Isso inclui patrocinar projetos comunitários, promover acesso à educação e garantir condições justas de trabalho e crescimento profissional para pessoas de grupos historicamente marginalizados.

O futuro da comunicação inclusiva

A internet e as redes sociais tornaram os consumidores mais críticos e atentos ao comportamento das marcas. O público já percebe quando a diversidade é usada apenas como uma estratégia comercial e tem exigido coerência entre discurso e prática. O desafio agora é transformar a representatividade em algo estrutural, garantindo que as marcas não apenas falem sobre inclusão, mas também a vivam dentro de suas operações.

Se a diversidade não for incorporada de forma autêntica, a tendência é que as campanhas vazias passem a ser ainda mais questionadas, gerando crises de imagem para as empresas. O futuro da comunicação inclusiva depende de um compromisso real com a mudança e da disposição de abrir espaço para quem sempre foi deixado de lado. No fim das contas, a inclusão não pode ser só um rótulo. Se for, ela perde a credibilidade e, com o tempo, deixa de convencer.